As companhias de navegação estão apreensivas com os riscos de segurança que pode envolver o transporte das várias toneladas de cereais ucranianos agora desbloqueadas e a levantar dúvidas sobre o recente acordo para permitir corredores seguros no Mar Negro.

28/07/2022  07H00

Operadoras de embarcações de grande porte estão receosas em transportar cereais da Ucrânia.

Os armadores temem que ainda existam minas à deriva nas águas do Mar Negro, pelo que o transporte dos cereais que estiverem retidos durante vários meses nos portos ucranianos e que na passada sexta-feira foram desbloqueados após um acordo assinado em Istambul está a decorrer em ritmo lento e cauteloso, segundo o relato da agência norte-americana Associated Press (AP).

A meta nos próximos quatro meses é retirar cerca de 20 milhões de toneladas de cereais de três portos marítimos ucranianos que estavam bloqueados desde o início da invasão russa, em 24 de Fevereiro.

Este objectivo implica que quatro a cinco grandes embarcações transportam diariamente os cereais dos portos ucranianos, com vista a alimentar milhões de pessoas em todo o mundo e evitar uma grave crise alimentar.

As exportações russas de fertilizantes também tiveram uma queda de 25% no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, em parte devido às sanções ocidentais.

As dúvidas e receios sobre o processo de transporte e de exportação começaram poucas horas depois do acordo assinado em Istambul pela Rússia, Ucrânia, Turquia e as Nações Unidas, quando mísseis comandados por Moscovo atingiram o porto ucraniano de Odessa.

O acordo celebrado em Istambul, sob a égide de Ancara e da ONU, oferece garantias de que o transporte dos cereais ucranianos e fertilizantes russos não serão alvo de ataques militares, mas os armadores não revelam confiança na aplicação do tratado.

“Temos de trabalhar muito para entender os pormenores de como vai funcionar na prática”, disse Guy Platten, secretário-geral da Câmara Internacional de Navegação, que diz representar as associações nacionais de armadores, que correspondem a cerca de 80% da frota mercante mundial.

“Podemos garantir a segurança das tripulações? O que vai acontecer com as minas? Há muitas incertezas e incógnitas neste momento”, afirmou Platten.

  União Europeia e Kyiv discutem Acordo  Energético

A União Europeia (UE) e Kiev discutiram,  terça-feira, opções para aumentar a cooperação energética, perante um possível corte no fornecimento de gás da Rússia, em resposta às sanções impostas pelo organismo europeu.

“Sempre que falamos sobre segurança de abastecimento na Europa, a Ucrânia faz parte dessa conversa, estamos em contacto constante e a Ucrânia faz parte da plataforma energética da UE, assim como os seus dois grupos regionais”, sublinhou a comissária europeia da Energia, Kadri Simson, durante uma conferência de imprensa conjunta com o ministro ucraniano do sector da Energia, German Galushchenko.

O ministro ucraniano reuniu-se com os ministros dos 27 Estados-membros no final de um Conselho extraordinário de Energia, que decorreu em Bruxelas e onde acordaram reduzir 15% do consumo de gás até à primavera.

A comissária europeia explicou que a UE vai reduzir o  consumo de gás “sempre que possível, para acabar com a dependência da Rússia”.

“Estamos a trabalhar muito de perto antes do próximo Inverno, para melhorar a segurança do fornecimento e estarmos preparados para qualquer interrupção”, atirou Kadri Simson.

Relativamente à Ucrânia, a comissária europeia lembrou que a UE tem contribuído para garantir o aumento dos fluxos de gás com a Ucrânia até ao final do ano, e garantiu que o organismo europeu está “preparado para facilitar a expansão”.

“A Ucrânia tem a maior capacidade de armazenamento de gás da Europa. Temos interesse em usá-lo para a nossa segurança no abastecimento”, atirou.

O vice-Primeiro-Ministro checo e responsável pela Indústria e Comércio, Jozef Sikela, cujo país preside ao Conselho da UE este semestre, assegurou que foi discutido em conjunto com a Ucrânia “a cooperação no sector Energético”, que “pode continuar a desenvolver-se”.

Ao mesmo tempo, Jozef Sikela salientou que Kiev disponibiliza à UE “electricidade adicional a preços acessíveis numa altura em que os preços são excepcionalmente elevados”.

Já German Galushchenko enfatizou que a guerra que a Rússia começou não é apenas contra a Ucrânia, mas “contra a unidade europeia, a solidariedade e o modo de vida europeu”.

“A Ucrânia já sabe como é, quando a Rússia corta repentinamente o fornecimento de energia”, lamentou.

O ministro ucraniano realçou que o seu país pode aumentar a electricidade que exporta para a UE e substituir parcialmente o gás russo que pode deixar de circular, o que resultaria numa situação que interessaria tanto à Ucrânia como ao organismo europeu.

Além disso, German Galushchenko disponibilizou a capacidade de armazenamento de gás da Ucrânia para ajudar a UE a aumentar as reservas.

O objectivo é que, entre 1 de Agosto deste ano e 31 de Março de 2023, os Estados-membros reduzam em 15% do consumo de gás natural (face à média histórica nesse período, considerando os anos de 2017 a 2021), de forma a aumentar o nível de armazenamento europeu e criar uma almofada de segurança para situações de emergência.

Revista Destemidos