A primeira edição do Festival da Música e Dança Tradicional da região Leste, do país, realizada na noite de sábado, no Largo Agostonho Neto, no Dundo, Lunda-Norte, eternizou o Cinguvu, um instrumento musical do folclore daquele região.

28/06/2022 .  09H25

Próxima edição do festival no Moxico vai contar com a participação de países da África Austral.

Foi nostálgico para a velha geração sentir novamente o som do “monstro” da família dos batuques, recordando  os tempos em que se que comunicavam com aldeias vizinhas, incluindo  festejos   efusivos, como   o tchisselas do mukanda (ritual da circuncisão ), kafundeji (preparação da rapariga para a vida marital) e manongonongo  (comemoração do nascimento de uma criança).

Há muito que não se ouvia o roncar do som do Cinguvu, em grandes cerimónias comemorativas no seio do povo Lunda  Cokwe.  O ritmo  contagiou, também, a nova geração, que  ouviu,  pela primeira vez, a sua melodia que casou com a harmonia do canto do ancião, que tocava o instrumento com mestria.

Durante a sua apresentação, o percussionista, por sinal dos poucos que toca  aquele instrumento musical, revelou que por causa da mística, o Cinguvu é fabricado distante das aldeias e povoações de forma a conservar a sua ancestralidade.

Fez saber ainda que  além de servir como um instrumento musical em companhia do Ngoma ya  Xina e a Puita, Cinguvu exercia o papel de  telefone para se comunicar com as localidades mais próximas.

O ancião de 72 anos disse que para executar aquele instrumento é necessário passar o Mungongue, uma escola considerada Universidade na cultura Cokwe, depois de sair  da circuncisão, onde é ensinado também a forma da sua produção, a partir de troncos entrelaçados de forma quase triangular coberta com a pele de hipopótamo.

 

Espectáculo

Depois da apresentação do Cinguvu, seguiu-se a actuação dos grupos musicais que  cada um ao seu estilo executou danças da  tchianda, kassekumuna, makopo e maringa, onde os movimentos dos dançarinos combinavam em perfeita harmonia com os sons dos ngomas (batuques).

Mesmo não sendo um evento de competição, os grupos deram o seu máximo de formas a mostrar a riqueza cultural do povo Lunda e dignificar o Festival da Música e Dança  folclórica do Leste.

Pela Lunda-Norte, província anfitriã, participaram no festival os grupos  Mwesseke Utale, Akishi tchyanda e Tcha-ko tchyetu tcha utchokwe, A província do Moxico esteve representada pelos grupos Komokenu, Hatchilimwene Habiude Mãe Grande, en-quanto que pela Lunda-Sul desfilaram o Tchako Tchyetu, do bairro Luari, da cidade de Saurimo, Komokenu, do município do Muconda, e Makopo do Dala.

A cidade do Luena, província do Moxico , vai acolher, no próximo ano, a  segunda edição do Festival da Música e Dança Tradicional do Leste de Angola, que poderá  contar com  presença de  grupos de países da África Austral, de acordo com Paulo Mandela, director-geral Adjunto para Área de Administração da Sociedade Mineira do Catoca, empresa patrocinadora  e responsável pela  realização do evento.

“A é intenção do Catoca é trazer ao palco da próxima edição do evento, artistas dos países vizinhos de Angola, nomeadamente da República Democrática do Congo  (RDC), Zâmbia, Namíbia e Botswana”, disse Paulo Mandela, que adiantou que o objectivo é  internacionalizar o festival.

O  festival que foi prestigiado pelas presenças dos governadores provinciais da Lunda-Norte e do Moxico,  Ernesto Muangala e Gonçalves  Muandumba, respectivamente.

O governador da Lunda-Norte mostrou-se agradecido pela escolha do  Dundo para o palco da  primeira edição do festival, que permitiu reunir o povo dos dois cantos do Leste de Angola num só palco.

Ernesto Muangala espera que o Festival da Música e Dança tradicional seja uma marca, não só para o folclore da região Leste, mas também para todo o país, reafirmando o total apoio por parte do Governo da Lunda-Norte em prol do resgate, preservação e divulgação da cultura cokwe.   

Revista Destemidos