Por acreditar numa “grande” mentira, Teresa Francisco, de 28 anos, trocou o noivo por outro homem que parecia ter um coração puro. Não via defeito algum no jovem, que a dizia insistentemente que a amava, oferecia-lhe coisas valiosas. Deixou-se enganar. E agora desistiu da ideia de ter marido.

Mentira é uma prática que deve ser combatida por carregar uma série de consequências negativas para a sociedade 

“Os homens são todos mentirosos. Eu já tinha noivo. Mas apareceu alguém que parecia ser um homem perfeito. Prometeu casar comigo e muitas outras coisas mais. Convenceu-me a abandonar o homem que já se tinha apresentado à minha família. Enganou-me bem. E só descobri depois de oito meses de namoro, que ele já tinha mulher e filhos”, contou amargurada, ao Jornal de Angola.

Arrependida, por ter destruído o noivado, Teresa Francisco, que vive nas Mabubas, município do Dande, província do Bengo, apela às pessoas no sentido de dizerem sempre à verdade, à não espalharem mentiras ou boatos, que podem causar à morte de alguém ou separar famílias.

Já Paulo Sabalo, de 40 anos, motorista de uma empresa de construção civil, sediada em Caxito, detesta recordar-se da história que inventou para enganar um dos seus primos. “Por causa de uma brincadeira, deixamos de ser amigos. Em 2008, no dia 1 de Abril, disse ao meu primo que o pai dele (meu tio) tinha morrido. Para confirmar o facto, ligou para um dos irmãos e descobriu que o velho estava bem vivo”, relatou. 

Depois disso, acrescentou, o primo ficou furioso e deixou de passar-lhe a palavra. “Só voltamos a falar em 2015. Mentiras têm pernas curtas e não ajudam em nada”, reconheceu, para prometer nunca mais brincar com coisas sérias.

O jovem Hélder Fortunato, estudante da 12ª Classe, que frequenta o curso de manutenção industrial, no Instituto Politécnico Técnico do Bengo, está chateado com o irmão, que quase nunca cumpre com as promessas que faz.

“Mais uma vez, ele mentiu-me. Cansei-me de esperar pelo livro de matemática. Mas ele sabe que preciso muito daquele livro, porque vai ajudar-me a compreender melhor as equações matemáticas”, referiu o jovem morador do bairro Açucareira, no município do Dande.

Todos os anos, no dia 1 de Abril, Dia das Mentiras, em vários países do mundo, as pessoas pregam partidas e espalham boatos para assinalar a data. A brincadeira começou na França, no século XVI.

 A verdade é o melhor caminho

Para o padre da Igreja Católica Apostólica Romana, Osório Olício, as pessoas mentem, porque julgam-se segundo as aparências em detrimento da justiça. Referiu-se ao livro bíblico de Jó, no capítulo 7, versículo 24, para esclarecer que em circunstância alguma a mentira é favorável para aquele que a pratica.

De acordo com o sacerdote, o homem precisa aprender que a verdade tem um valor intangível e que, por essa razão, será sempre preferível dizê-la. “À mim, chamou-me muito à atenção o facto de haver um dia dedicado à mentira. A história é engraçada. Consta que, tudo começou em 1564. Mas o que me deixa inquieto é o facto de a efeméride ter o seu lugar na civilização actual”, salientou.

O padre Osório Olício acrescentou que desta forma, o homem está a construir uma humanidade assente na mentira, e não na verdade que todos necessitam e precisam para serem livres. “O que acontece é que, ano após ano, tem-se dado corpo a esse dia que não leva à sociedade num bom caminho. A mentira nunca será benéfica para o homem”, atirou.

O psicólogo António da Cunha disse que “a mentira é sempre uma mentira, e nunca vai ser igual à verdade, porque quando alguém mente para se desfazer de um problema, por exemplo, a consequência vai ser sempre negativa”.

Segundo o especialista, a mentira acabou por virar um hábito socialmente aceite, o que tem contribuído para a degradação de valores importantes, para a construção de uma sociedade sã. Tendo em conta que a mentira pode destruir laços fortes de amizade e provocar danos irreparáveis, António da Cunha aconselha às pessoas a dizerem sempre a verdade.

“Mentir é um processo psicológico pelo qual um indivíduo tenta, deliberadamente, convencer outra pessoa a aceitar aquilo que o próprio sabe que é falso, em seu próprio benefício ou de outrem, para maximizar um ganho ou evitar uma perda. Portanto, isso não deixa de ser um mal que tem a sua consequência”, concluiu.

Revista Destemidos.

G.G.M.Â